Restos de Colecção

13 de maio de 2024

Hotel Cidnay em Santo Tirso

O "Hotel Cidnay", foi inaugurado em Santo Tirso, a 7 de Fevereiro de 1931. Mandado construir pelo capitalista e proprietário local, Francisco Cândido Moreira da Silva (1855-1940), foi projectado pela dupla de arquitectos Baltazar Castro (1891-1967) e Rogério de Azevedo (1898-1983).



Francisco Cândido Moreira da Silva (1855-1940)


Por ocasião da inauguração o jornal "Semana Tirsense" noticiava:

«...Tratando-se da inauguração do maior hotel construido nos ultimos tempos no norte de Portugal, aqui vieram muitas familias de varios pontos do paiz, que ficaram optimamente impressionados com o grande hotel com que Santo Tirso foi dotado.
Os tirsenses, tomando parte na inauguração de ontem, não fizeram mais que prestar as suas homenagens bairristas aos proprietarios do novo Hotel. (...)
Pelo que representa de benemerencia para a nossa encantadora terra, ficamos todos os tirsenses muito gratos á familia Moreira da Silva, sempre pronta a auxiliar tudo que seja para o bem da sua terra. (...)


Ao fundo, onde viria a ser construído o "Hotel Cidnay"


Construção do "Hotel Cidnay"




A exploração do explendido Hotel está a cargo do conhecido e habil hoteleiro, sr. José Manuel Solleiro, que é um profissional conhecedor a fundo do seu métier e pessôa muito relacionada.
Durante anos dirigiu o grande Hotel Termal, das Caldas da Saúde e muitos outros importantes hoteis, em Lisboa, Pedras Salgadas, Curia, etc., tendo sempre demonstrado proficiencia e zelo, dispensando a seus hospedes todos os cuidados e atenções, o que á a garantia bastante para o completo triunfo deste grande empreendimento, que representa para o progresso local uma obra de vulto. (...)
Possuindo todas as exigencias dum estabelecimento hoteleiro moderno, o novo Hotel será, com certeza muito frequentado pelos turistas, a quem não são indiferentes as belezas de Santo Tirso.
A construção do Hotel Cidnay, cujo projecto é da autoria dos distinctos arquitectos srs. Baltazar de Castro e Rgerios de Azevedo, e que foi executado pelo conhecido e importante constructor civil sr. Ramalhão, obedece a um estilo moderno, que muito faz salientar as suas linhas arquitetónicas. (...)»




17 de Fevereiro de 1950

O guia de "Hoteis e Pensões de Portugal" para 1939, fornecia-nos as seguintes informações deste hotel:

Montado com todo o conforto moderno. Serviço de primeira ordem. Cabines para autos. Aberto todo o ano.

Concessionário: José Manuel Solleiro

Categoria: 2ª classe
Nº de quartos: 54
Diária: de 25$00 a 60$00
Pequeno-almoço: 4$00
Almoço: 12$00
Jantar: 14$00 

Em 24 de Dezembro de 1970, o, então, concessionário António Antunes de Almeida, transmitia o encerramento definitivo do "Hotel Cidnay" a 31 de Dezembro do mesmo ano.

24 de Dezembro de 1970

Como se pode ver pela próxima foto, o edifício do "Hotel Cidnay" ainda sobreviveu, e teve outras finalidades nos anos seguinte .,..

A licença de construção do novo edifício para habitação, escritórios, comércio e estacionamento, viria ser aprovada em 16 de Abril de 1982 e o Alvará de licença em 30 de Dezembro de 1982.A demolição do antigo "Hotel Cidnay" teria lugar no início de 1983.



Demolição em 1983


9 de maio de 2024

"Theatro dos Recreios"

Circo e Teatro "Recreios Whittoyne", propriedade de sociedade por accções "Empreza Exploradora de Recreios Whittoyne", fundada pelo palhaço Henry Whittoyne, foi inaugurado em 6 de Novembro de 1875, nos jardins do "Palácio Castelo Melhor" - concluído em 1858 - actual "Palácio Foz”. O projecto ficou a cargo do arquitecto Domingos Parente da Silva (1836-1901). Estas primeiras instalações eram compostas por um circo, teatro, café, restaurante, casa de jogos diversos, alamedas e jardins iluminados.

"Recreios Whitoyne" dentro da elipse desenhada, com a Avenida da Liberdade recém construída



16 de Setembro de 1876

Em 12 de Janeiro de 1879 «um dos mais pavorosos e rapidos incendios que a cidade ultimamente tem presenciado» teve lugar nos "Recreios Whittoyne", tendo provocado avultados prejuízos estragos, das quais se deram conta na notícia do "Diario Illustrado" do dia seguinte e que publico de seguida:

No dia 15 de Janeiro de 1878, uma boa notícia era dada pelo "Diario Illustrado":

«Os accionistas dissidentes da empreza exploradora dos Recreios, uniram-se com o louvavel fim de nomearem uma grande comissão para obter donativos destinados á reparação dos estragos do incendio e construir uma rotunda mais alta, e terraplanar a parte incendiada, de modo que fique unida á esplanada.
Estas obras vão começar ámanhã, e é de crêr que os promotores de tão louvavel idéa encontrem todo o auxilio entre os seus amigos e os accionistas da empreza.»
Noutra pequena nota, no mesmo jornal: «Consta que a direcção dos Recreios, em nome da empreza, manda celebrar na proxima sexta-feira, oitavario do passamento do nobre marquez de Castello Melhor, uma missa de Requiem na parochial egreja de Santa Justa, sendo o 'Libera me' executado pelos artistas da companhia italiana e toda a orchestra do theatro.
A direcção resolveu convidar para este solemne acto toda a familia e amigos do finado e a imprensa da capital»


E ainda, no tocante ao incêndio ... «A direcção dos Recreios auxiliada por todos os membros dos corpos gerentes, e alguns amigos particulares, realiza na proxima 2ª feira um beneficio destinado a attenuar os importantes prejuizos que o sr. Achiles Lupi soffreu no incendio.
Nada resta do opulento guarda roupa e abundante scenario que eram o ganha pão de tantas familias.
Os promotores d'esta recita empregam todos os seus esforços para que ella seja o mais productiva possivel, e assim succederá porque o nosso publico está prompto sempre a socorrer os que padecem com taes calamidades.»

Em 26 de Junho de 1879 umas "Variações" de Raphael Bordallo Pinheiro em "O Antonio Maria":

«O Passeio Publico, segundo annunciam os jornaes, esta sendo frequentado pelo que ha de mais selecto na sociedade lisbonense.
O Diario Popular, em abono d'esta asserção, e para que no espirito das familias mais meticulosas não ficasse restando a menor duvida, ainda na segunda-feira dizia o seguinte:
"Tendo havido alguns roubos no Passeio Publico do Rocio, parece que a sra. Amann vae requisitar para alli alguns policias. O Antunes e o Castello Branco já hontem fizeram bom serviço!"
Caspité! Passeio Publico, a que alturas tu subiste! Tal qual o que ha cousa de cinco ou seis mezes aconteceu nas salas da Ajuda!...
Os Recreios agora é que não devem ficar atraz do seu rival, e esperamos, d'um momento para o outro, ler o seguinte aviso nos jornaes, como réplica ás pretenções de bom tom do Passeio:
"Hontem a esplanada foi concorrida pelo que ha de mais distincto na nossa sociedade. Cerca d'uma duzia de senhoras ficou sem brincos nas orelhas, e oa pé do coreto foi assassinado e roubado um sujeito, do qual por enquanto se ignora o nome. 
A noite estava muito amena. Aos Recreios, pois." »


31 de Julho de 1879


18 de Setembro de 1879


24 de Dezembro de 1879

Quanto à frequência, propriamente dita, do "Theatro dos Recreios" o mesmo "O Antonio Maria" comentava:

«Nos Recreios é agora costume, quando algum espectador dá provas de desagrado aos bailados de Fuensanta, ou aos 'arrepios' da Moriones, levantarem-se a claque e o grupo de 'eternos admiradores' d'aquelles dois astros, bradando para o que pateia: - Pum, pum, fóra burro!
Parece-nos um mau costume esta troca de nomes.
O Soares deve ter muito cuidado, senão, d'aqui a pouco, são muito bem capazes de lhe comer o fundo das cadeiras.
Dar-se-ha o caso de que os Recreios se tenham mudado para Cacilhas sem a gente dar por isso? »



                                      15 de Julho de 1880                                                         8 de Agosto de 1880


Estas instalações seriam substituídas pelo Grande Colyseu, que vira a ser designado ora por "Colyseu dos Recreios" ora por “Theatro dos Recreios” e cuja construção, no mesmo local, teve início em 6 de Junho de 1881 sob projecto do arquitecto Parente, com um custo total de 26 contos de réis. Seria inaugurado, em 27 de Maio de 1882, com um sarau «gymnastico-equestre» oferecido pelo "Real Gymnasio Club Portuguez", em benefício dos "Albergues Nocturnos de Lisboa".

«Os Albergues Nocturnos, creados para acudir aos desvalidos, aos verdadeiros desgraçados que nem podem acolher-se nas sombras da noite sob um tecto que lhe abrigue os gemidos da sua triste miseria, pertencem ao numero das instituições de caridade mais dignas do alto respeito.
Sua magestade el-rei consagra-lhe entranhado amor.» in: "Diario Illustrado"



"Theatro dos Recreios" em 27 de Maio de 1882


Bilhetes


Em 29 de Maio de 1882, o jornal "Diario Illustrado" publicava uma pequena notícia, a propósito da sua inauguração:

«O salão a que nos referimos e cujas janellas deitam para o largo do passeio, é vastissimo, alegre, decorado com simplicidade, mas em extremo confortavel.
Segue-se-lhe a loja de bebidas, uma sala excellentemente disposta, cheia de ar e de luz, onde não é facil acotovellar-se a gente, o que é vulgarissimo nos restaurantes dos nossos theatros, succedendo frequentes vezes uns desastres mais ou menos comicos que todos conhecem.
Do salão de entrada uma larga escada conduz ao Coliseu.
Sem nos querermos alargar em detalhes e sendo o nosso unico fim relatar a impressão, se pode dizer, de momento diremos, comtudo, que o aspecto geral do circp, talvez porque o velho e hoje extincto circo Price nos esteja ainda bem patente na memoria não é completamente animado, como parece convir a este genero de casas de espectaculos.
A luz, por exemplo, pareceu-nos em pouca quantidade e mal distribuida.
O gosto decorativo agradou-nos bastante, senão no todo pelo menos em parte, tal como a architectura e pintura dos arcos e tecto entre aquelles e os camarotes, os quaes resentindo-se igualmente de falta de luz não era facil examinal-os.
E não ficariam estes muito distantes da arena? Assim nos parece.
Em compensação os logares de fauteils e cadeiras são magnificos e muito commodos.
A obra cremos não está ainda completa e a noite de hontem daria logar a um ensaio muito para aproveitar.
Perto das 9 horas chegando suas magestades ao camarote e sendo executado o hymno real, deu-se comeco ao espectaculo.»

E a revista "Occidente", também aquando da sua inauguração, e que publiquei no artigo "Recreios Whittoyne" em 28 de Dezembro de 2017:

«O coliseu é um recinto vasto: a arena é mais pequena que a do antigo circo de Price, mas em geral o circo é muito maior e comporta muito mais espectadores. Tem quatro qualidades de logares: 560 cadeiras, logo em torno da arena; 200 fauteuils por detraz das cadeiras na disposição em que o circo de Price eram os camarotes, 2000 logares de geral, pelo mesmo systema d'aquelle circo, e por cima da geral 62 camarotes n'uma ordem só.
Estes camarotes fazem mau effeito porque estão collocados a uma grande altura, mais altos que a 2ª ordem de S. Carlos e as divisorias convergindo todas para o centro da arena, tornando-os muito incommodos para os espectaculos que se derem no theatro.
Em frente do palco, por cima da entrada principal do circo, ficam os camarotes reservados para el-rei D. Luiz e para el-rei D. Fernando, para o proprietario do terreno dos Recreios, a filhinha do falecido marquez de Castello Melhor, e para a direcção da sociedade exploradora dos Recreios Whittoyne composta hoje dos srs. José Miguel Marques Rego, Julio Cesar da Silva e José Carlos Gonçalves.
A ornamentação do coliseu é pobre, mas da pior das pobrezas, d'aquella que finge rica e que no fim de contas sae carissima mais tarde.
Como circo o coliseu preenche as condições necessarias, mas como theatro deixa muito a desejar.
Parece-nos que foi um erro, na nossa terra e no nosso tempo, ao construir uma grande casa de espectaculos, pensar mais em fazel-a um circo de que um theatro.
No deliniamento do coliseu dos Recreios fez-se isso. Não é um theatro circo: é um circo, que em caso de necessidade arremedeia para theatro. (...)
O palco é acanhado, não tem urdimento que comporte o movimento theatral, o tablado não tem o declive proprio, de modo que as figuras que n'elle trabalharem, quando estiverem em varios planos empastam-se.
A sala depois de armada em platea é plana sem declive, de modo que os espectadores de traz difficilmente poderão ver o que se passa no palco, vendo apenas as cabeças dos espectadores que lhes ficarem á frente.
Dos camarotes muitos d'elles são inteiramente perdidos para os espectaculos theatraes, porque não se vê d'elles o palco.
Do aspecto geral do coliseu da sua architectura e ornamentação dá conta a nossa gravura.»




“Theatro dos Recreios”, teria uma existência curta já que em virtude da construção da estação central ferroviária do Rossio, os seus terrenos viriam a ser expropriados. O seu último espectáculo ocorreu em 9 de Julho de 1887, com a exibição da ópera “La Traviata”. Oito dias depois já estava demolido. Recordo que estas construções eram em madeira pelo que a sua demolição era sempre rápida, assim como quando ocorria um incêndio as consequências eram devastadoras.

«Hoje repete-se a "Traviata" em recita dedicada aos srs. accionistas e portadores de obrigações na qual teem entrada por meios preços; no espectaculo de ante-hontem agradou muitissimo a sra. Helder, tenor Bruni e distincto baritono amador mr. Leon Hollemart.
O producto d'estes espectaculos reverte a favor do pessoal ao serviço d'aquella empreza que vae ficar desempregado.»



De referir que as suas ultimas representações já tiveram no "Theatro da Trindade" (inaugurado em 30 de Novembro de 1867), que foi alugado pela direcção dos "Recreios Whittoyne", para o efeito.:

«Em consequencia da direcção dos Recreios não ter consentido que a companhia continuasse a funccionar no Colyseu embora o seu emprezario tivesse obtido do sr. marquez da Foz, proprietario do terreno, licença para haver espectaculos até ao dia 10, o emprezario sr. Santos Junior, como hontem dissemos, tratou de alugar o theatro da Trindade para a continuaçao das representaçoes da companhia de zarzuela e baile, realizando hoje o primeiro espectaculo n'este theatro com a bella operetta a Mascotte. (...)
Estamos convencidos que a companhia lucrou grandemente, com a vinda para a Trindade o nosso unico theatro adequado aquelle genero de canto.
Com a grande reducção dos preços, tanto a empreza como o publico hão de certo lucrar bastante.» in: "Diario Ilustrado" de 2 de Julho de 1887.

Em 14 de Agosto de 1890, viria ser inaugurado o "Colyseu dos Recreios", na Rua de Santo Antão, em Lisboa.



4 de maio de 2024

G. Fontana & C.ª - Pianos e Harpas

A casa "G. Fontana & Cª", foi fundada em 1853 pelo harpista Galeazzo Fontana (1836-1875), na Rua das Portas de Sta. Catharina, renomeada no ano seguinte de Rua do Chiado, e futura Rua Garrett a partir de 10 de Junho de 1880, nos números 12 e 13 inicialmente e mais tarde nos 104 e 106. Para o efeito, constituiu a firma "G. Fontana & C.ª" e vendia pianos (ou alugados), orgãos, harpas, concertinas, cordas para harpa e rebecca, partituras de músicas, etc. Tinha como afinador de pianos o, então famoso, Tito Pagani que funcionava como ex-libris deste estabelecimento.


26 de Agosto de 1860



1863


Lista de 1863

27 de Julho de 1872

Era na Rua Nova do Almada, Rua Nova do Carmo e Rua do Chiado que, na segunda metade do século XIX, se encontravam os principais estabelecimentos de venda e fabrico de pianos, instrumentos musicais, e pautas de músicas. Por esses lados, apareceriam outros tantos, com o caminhar do século XIX e início do século XX, numa concorrência lado a lado ou frente a frente, nas renomeadas ruas Garrett ou do Carmo. A referir os principais: "Matta Junior & Rodrigues", "Guilherme Steglich" "Sassetti & C.ª ", "Ernesto Victor Wagner", "Lence & Viuva Canongia", "G. Fontana & C.ª", "Salão Neuparth", "Companhia Propagadora de Instrumentos Musicos", "Salão Mozartou "Custodio Cardoso Pereira & C.ª ". 

Nota: clicar nos títulos das lojas, que estão a dourado, para consultar as suas histórias, neste blog.


No "Almanach Commercial de Lisboa" de 1880


Loja onde tinha estado instalada a "G. Fontana & C.ª" (dentro da área delimitada a vermelho), na Rua Garrett


"Companhia Hamburgeza" onde Galeazzo Fontana era gerente

A maioria dos proprietários acumulava a profissão de músico, professor de música ou de instrumentos: Sassetti foi pianista, Ernesto Wagner tromptista e professor do "Conservatório Real de Lisboa", José Avelino Canongia clarinetista, Augusto Neuparth clarinetista e saxofonista, Galeazzo Fontana harpista no S. Carlos, etc.

O fundador e proprietário da "G. Fontana & C.ª ", Galliazo Fontana (1836-1875) era um dos três filhos de Caetano Fontana (1800-1884), um emigrado político milanês de 1835, que terá sido o primeiro harpista efectivo do "Real Theatro de S. Carlos". Seu irmão, Alfredo Fontana era «um verdadeiro prodigio, tocando violino, piano e harpa com egual facilidade. Todavia, apezar da sua grande vocação musical, Alfredo Fontana seguiu a carreira das armas, alistando-se no exercito italiano onde chegou a um posto superior.». E o outro seu irmão Achilles Fontana, «dedicou-se pela sua parte ao commercio, e dos seus antigos estudos musicaes conservou sómente o gosto pela arte, que tem satisfeito sendo um dos mais activos membros fundadores da orchestra da Real Academia de Amadores, como excellente contrabaixo» (*)

Quanto a Galliazo Fontana, nasceu em Lisboa em 1836 e foi um harpista notável, pena que teve uma vida curta tendo falecido tuberculoso em 1875 com apenas, 39 anos de idade. 

«Tinha apenas 11 annos quando se estreiou no theatro de S. Carlos. D'ahi por diante apresentou-se muitas vezes tocando a solo, tanto n'aquelle theatro como nos saraus das Larangeiras e concertos das academias, mostrando sempre rapidos e constantes progressos.
Em 1847 já substituía o pae na orchestra, e era convidado para as orchestras de Madrid e Sevilha.» (*)
(*) - in: "Diccionario Biografico de Musicos Portuguezes" de Ernesto Vieira (1900)

A "Revista Universal Lisbonense", de 25 de Julho de 1844, relatou uma sessão no "Real Theatro de S. Carlos" donde retirei as seguintes passagens:

«O sessão de 21 no theatro de S. Carlos foi uma demonstração brilhante do que póde a educação dada por um pae eminente nas materias, que ensina, a seus filhos. O distincto cavalheiro milanez emigrado, o sr. Fontana, harpista na nossa ópera, obtivera essa noite para beneficio da sua imberbe e interesantissima progenie. O programma annunciava, entre outas coisas, que ouviriamos - «variações de bravura de pianno e orquestra, sobre motivos do Prés aux cleres., de Herz executadas pelo jovem Achilles. Tercetto de duas harpas e pianno, executado pelos tres memninos. Tercetto de duas harpas e pianno, sobre motivos do Bravo, executado pelos jovens Achilles, e Galliazo, (o 1º e 2º irmão) e seu pae. (...)
Todas as damas os haveriam devorado com beijos, nenhum dos homens, que os palmeavam, deixou de sentir um abalo de inveja, aos gosos secretos e inefaveis do progenitor. Que tres musicos distinctos se não adivinham já, sem grande metamorphose, n'este apertado e mimoso ramalhete de tres botões!»


Capa de partitura de 1873, composta por Tito Pagani, que também era afinador de pianos para a "G. Fontana & C.ª "

Muitas casas de instrumentos musicais, procurando chegar a uma clientela mais vasta, promoviam o aluguer de pianos, pagamentos a prestações e abatimentos: na casa do harpista Galeazzo Fontana «alugam-se aos meses, e com abatimento aos trimestres e semestres, recebendo tambem em pagamento piannos usados», na "Guilherme Steglich" «vendem-se pianos a prestações mensaes», a "Companhia Propagadora de Instrumentos Musicos" anunciava com letras gordas «venda a prestações sema-naes e mensaes, pelo prazo de 36 meses e sem juro», S. Alberto Xisto envia «catalogos gratis a quem os requisitar com os instrumentos e partituras disponíveis, com 15 por cento de desconto sobre o preço do catalogo ou 10 por cento livre de todas as despezas, e postos na estação do caminho de ferro mais proximo da localidade dos destinatarios»...


30 de Agosto de 1874


9 de Abril de 1875

A casa "G. Fontana & C.ª " em 1874 já tinha sido ampliada aos nos 112 e 114 da Rua do Chiado. Após a morte do seu fundador Galleazo Fontana em 1875, a empresa deixa os nos 112 e 114 e fica, de novo, instalada só nos 104 e 106, entre a entrada do "Grande Hotel Borges" e a loja de perfumes, luvas, e brinquedos "Maison Benárd" - futura "Livraria Sá da Costa" - na esquina com a Rua Serpa Pinto. Nos números 112 e 114, em 1893 uma nova casa de instrumentos musicais: "Matta Junior & Rodrigues ", que vendia instrumentos musicais para bandas e orquestras.

7 de Maio de 1877


21 de Dezembro de 1879


No "Anuario Commercial de Lisboa" de 1885


1 de Janeiro de 1872


"Matta Junior " e "Guilherme Steglish" lado a lado


Após ter alterado a designação em 1897 para "Matta Junior", em anúncio de  1904

Tanto a "Matta Junior & Rodrigues" como a "Matta Junior", foram sempre referidas e conhecidas pelo "Armazem de Músicas e Pianos".

«Tal como os outros editores retalhistas não possuía oficina própria de litografia, recorrendo a litografias nacionais, como a litografia Moreira na Rua das Flores, ou então estrangeiras, como a litografia de Geidel, em Leipzig. Quando muda de razão social para Matta Junior, passa a empregar marca de editor, na qual utiliza uma moldura decorada por motivos geométricos.
Editou fados, arranjos de excertos de obras de teatro musical ligeiro e alguma música de salão e divulgou principalmente compositores portugueses.» (1)

O sucessor do armazém de pianos de "Matta Junior" foi a loja de musicas e pianos "José Rigoni de Vasconcellos" que se instalou na Rua de S. Roque, 112 e 114.


22 de Dezembro de 1906


No " Annuaire des artistes et de l'enseignement dramatique et musical" de 1893

O estabelecimento "G. Fontana & C.ª ", ainda apareceria no "Annuaire des artistes e de l'enseignement dramatique et musical" de 1893 na secção de 1893. Encerraria em definitivo em um ou dois anos depois, dando lugar à "Confeitaria Gartidão", que. por sua vez, daria lugar à "Patisserie Benárd" em 1902.


24 de Dezembro de 1901


"Patisserie Benard" na loja onde funcionou a "G. Fontana & C.ª ". Ao lado a casa de perfumes, luvas e brinquedos "Elie Benard"

25 de Dezembro de 1902

Entretanto, nas terceira e quarta portas, mais à frente, nos  números 116 e 118 novo concorrente, a partir de 1886. O armazenista e oficina de pianos, harpas e harmoniuns : "Guilherme Steglish"" (que quando encerrou definitivamente, entre 1904 e 1906 deu lugar à retrozaria "Irmãos David" - mais tarde "David & David".


1886

Retrozaria "Irmãos David" onde tinha estado anteriormente "Guilherme Steglich", em foto de 1960

(1) - "La edición musical en Portugal (1834-1900): un estudio documental" de Maria João Durães Albuquerque - Universidad Complutense de Madrid - Obtenção de Grau de Doutora em 2014.